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sábado, 8 de janeiro de 2011

As marcas dos amigos em nós




     Dias desses recebi um email onde alguém falava que os amigos deixam marcas uns nos outros, mesmo que às vezes não queiram.  Aí fiquei pensando. Busquei o que tenho dos amigos dentro de mim... e não encontrei nada que eu preferisse não ter (reconheço que há algumas lembranças que têm um certo travo, um saborzinho meio ardido, mas ainda assim coisa que eu não expurgaria, nem se pudesse; até porque sei, hoje, que, quase sempre, aquele tempero errado, ou aquele descuido, que acabou por estragar um ou outro prato do maravilhoso banquete que a amizade nos proporciona vida a fora teve minha contribuição, sozinho ou em parceria).
     E, pensando, bem, não sou muito mais que a soma dessas marcas.
     De um, lá na adolescência, guardei o companheirismo, a obrigação de fidelidade,  tão bem definida na frase que  nos guiava, verdadeira lei, que não admitia ilicitudes: “amigo é aquele que é na ida e na volta”.
     Mais na frente, outro me deu lições de consciência política, cobrando coerências e responsabilidades, até mesmo me acusando de “alienação”, por pura intransigência ideológica - coisas da época...
     Adiante, um outro (imenso poeta que era – e continua sendo) me ensinou de talentos maravilhosos que a timidez pode ocultar; e da arrogância que nos habita e pode nos impedir de vê-los.
     Houve aquele, companheiro de tantas boemias, que nunca foi capaz de uma palavra ríspida, ou mesmo de um não, o amigo que era só carinho, e que se afastou, hoje sei (e de certa forma já sabia), simplesmente meio envergonhado por conta de uma dividazinha ridícula. Aí se foi, de repente, na flor da meia-idade. E deixou uma imensa saudade.
     E a importância da palavra, de que o que um homem diz vale mais do que qualquer papel? Essa me veio de um outro que se foi antes da hora. Aliás, nunca é hora dos amigos partirem – também por isso são tão importantes as marcas que eles deixam em nós: é um jeito deles ficarem mais um pouco.
     Só nesse pequeno intervalo de lembranças já encontrei lições,  marcas, que falam de fidelidade, consciência, responsabilidade, carinho, firmeza, saudade...
     Não é o caso de fazer inventário de amigos – nem são tantos, mas são tanto; e não há como se inventariar intensidades. Certo é que que só de olhar pra os amigos dentro de mim já cresci um pouquinho mais. Suas marcas continuam dando frutos – e me ajudando a errar menos no tempero, e no cuidado, dos banquetes que ainda pretendo compartilhar.
Aroldo Galindo
Conheça melhor meu amigo Aroldo Galindo: http://www.aroldogalindo.com/

Um comentário:

  1. Lindo adorei esse texto, acho que pensando por esse lado nosso carater vai se formando a parti da influência das nossas amizades. Uma vez um professor me disse "diga-me com quem tu andas, que te direi quem tu és" no começo eu achava isso bobagem, mais depois eu percebi que era a mais pura verdade! Tenho um pouco de cada um deles escrito em mim.

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