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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Dica de Leitura: “O filho eterno”




Tezza, Cristovão, 1952 –
O filho eterno / Cristovão Tezza. – 8ª ed. – Rio de Janeiro: Record, 2009.

O nascimento de um filho como momento de ruptura na vida de um casal. Uma criança desejada, mas diferente. Nas palavras do pai, na tímida tentativa de explicar para os conhecidos, nos primeiro meses, uma criança com “um pequeno problema. Ele tem mongolismo.” De início, o estranhamento, e o pai assume que a urgência não é resolver o tal problema da criança – haveria algo a ser resolvido? -, mas o espaço que o filho ocupará na própria vida.
E a criança o ocupa, ocupará pelo resto da vida. Num livro corajoso, Cristovão Tezza expõe as dificuldades, inúmeras, e as saborosas pequenas vitórias de criar um filho com síndrome de Down. O périplo por clínicas e consultórios numa época em que o assunto não era tão estudado e ainda tinha o véu do misticismo, a tensa relação inicial com a mulher. “Numa das crises, ela lhe diz, no desespero do choro alto: Eu acabei com a tua vida. E ele não respondeu, como se concordasse – a mão que estendeu aos cabelos dela consolava o sofrimento, não a verdade dos fatos.”
Aproveita as questões que apareceram pelo caminho nestes 26 anos de Felipe para reordenar sua própria vida: a experimentação da vida em comunidade quando adolescente, a vida como ilegal na Alemanha para ganhar dinheiro, as dificuldades do escritor com trinta e poucos anos e alguns livros na gaveta, a pretensa estabilidade como cargo de professor em universidade pública.
Com precisão literária para encadear de maneira clara referências de anos e situações tão díspares, às vezes dentro do mesmo capítulo, Cristovão Tezza reforça, com a publicação de O filho eterno, seu lugar entre os maiores escritores brasileiros.

Minhas impressões: É um livrão, muito intenso! Os pensamentos “absurdos” que passam pela mente da personagem central – o pai, escritor – são incrivelmente palpáveis, a gente ao mesmo tempo que se assusta por alguém ter alguns daqueles pensamentos, tem que admitir que aquilo é humano e que ninguém pode arvorar-se a dizer que jamais, em momento algum, pensaria algo parecido. O livro ajuda a entender as nossas próprias mazelas e a não nos condenarmos por tê-las.
Não é um livro sobre a síndrome e sim uma gostosa viagem pelo pensamento humano estimulado por uma situação pouco “normal”. Vale a pena!

Observações: Prêmio Portugal Telecom 2008 / Prêmio São Paulo de Literatura – Melhor Livro do Ano 2008 / Prêmio Jabuti – Melhor Romance 2008 / Premio Bravo! 2008 / Prêmio APCA 2007

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