Imagem via Google/Imagens
“Cada povo tem o governo que merece” Será?
Quando o filósofo francês Joseph-Marie Maistre (1753-1821) escreveu sua mais célebre frase, consagrou na história um pensamento que, no fundo, queria dizer que o povo não sabe escolher seus governantes. É uma conclusão bastante tentadora a que nos proporciona o pensador – que era contrário à revolução francesa e defensor da monarquia, pois coloca no colo do “povo” a culpa pelas mazelas governamentais que ao longo da história passada e presente existem em nossa sociedade. Fácil concluir: Esse povo ignorante é que faz os “políticos” serem tão corruptos. Bem feito!
Mas espere um pouco... Tem um “detalhe” importante nessa história: Que é esse tal “povo” que merece, permanentemente, governos tão ruins?
Por mais dolorosa que seja essa conclusão, é preciso perceber que esse povo também sou eu, é você que lê estas linhas, nossos ascendentes (pai e mãe, p.e.) e descendentes (filhos!), vizinhos, amigos, colegas, os jogadores de nossos times (pelo menos os cidadãos brasileiros), aquele guarda que te aplicou uma multa de trânsito (e que você teve vontade de dar R$10 pra ele mudar de idéia), aquele bombeiro que sacrificou a saúde salvando vidas no incêndio, aquele magistrado que vende sentenças e aquele outro que arrisca a vida pra garantir a prevalência da Justiça, o médico que só quer trabalhar à beira mar e aquele outro que vai pros rincões honrar a profissão... Enfim: Nós somos esse “tal” povo! E será que merecemos governos que nos roubem, que nos enganem, que não se preocupem conosco, que não cumpram a missão para a qual foram designados?
Apesar de inegavelmente existirem pessoas que não fazem a sua parte das pequenas às grandes coisas na sociedade, ninguém merece ser roubado, enganado, maltratado. Não defendo o “olho-por-olho”, até porque a imensa maioria do povo é gente de bem, gente que no fundo quer o bem dos seus e, no mínimo, não quer o mal para os demais.
O povo brasileiro não tem o governo que merece!
E isto é assim, porque vivemos imersos em um sistema político feito para não funcionar, pensado para privilegiar uma minoria que ao longo da história sempre se manteve efetivamente no Poder, independentemente de governos. Em que pese, de tempos em tempos, termos movimentos que aparentam que, finalmente farão com que vivamos numa verdadeira democracia, há sempre manobras que permitem a perpetuação dos “velhos”, daqueles que jamais se afastam do Poder e permeiam todos os governos (qualquer semelhança com elementos do PMDB não é mera coincidência).
O tal do “sistema” é tão bem feito que impede até mesmo quem queira realmente trabalhar. A forma como se dão as eleições e a tal “governabilidade” transformam qualquer programa de governo decente, no máximo, num arremedo, baseado em conveniências e retribuições, muitas vezes inconfessáveis. Eleger-se no Brasil, pelo sistema atual, é privilégio de quem tem muito dinheiro ou de quem se alia a quem tem muito dinheiro. Resultado: Os governos jamais deixam de facilitar e trabalhar para que quem já tem muito dinheiro ganhe ainda mais!
Não existe solução mágica pra isto, afinal, são muitos os fatores que contribuem para a corrupção que vem da sociedade para a administração. Investimento em educação com cidadania e fortalecimentos de valores éticos e morais, sem dúvida produzirão a médio longo prazo mudanças estupendas, que serão a base de uma sociedade melhor.
Porém, é preciso atacar o sistema em sua fonte de alimentação, é fundamental reduzir a influência do poder econômico na escolha daqueles que ocuparão os cargos mais influentes do Estado Brasileiro.
O modelo atual de financiamento de campanhas é um absurdo, favorece aos milionários e àqueles que vendem seus futuros mandatos. É porta aberta à corrupção, pois quando uma empresa ou alguém financia sua campanha, após a eleição vai mandar a fatura, que em regra é a corrupção.
Precisamos de uma democracia onde as pessoas sejam eleitas porque têm o dom de bem representar seus iguais, porque têm o dom de formular e defender boas e exequíveis propostas. Se a maioria do povo brasileiro é assalariado, porque a maioria de nossos "representantes" é de empresários, oligarcas e seus comparsas? É possível mudar essa história e isto começa por nivelar as eleições.
Que vença quem tiver propostas e não quem compra mais votos!
Nesse sentido, está em discussão no Congresso Nacional e também no seio de nossa sociedade, a partir da iniciativa de movimentos populares e alguns partidos políticos, a proposta de financiamento público exclusivo das campanhas eleitorais. Como não poderia deixar de ser, os “velhos” e eternos donos do “Poder” já se mobilizaram contra a proposta e tentam desviar o foco da discussão, distorcendo-a.
É preciso dizer que não se trata de “gastar dinheiro público com políticos” e sim investir no processo eleitoral igualitário e democrático para que tenhamos eleitos que efetivamente representem o povo brasileiro. Não é usar nosso dinheiro para fazer campanhas ricas (contratar shows, inundar as cidades de fotos que nada dizem, etc.), é apenas custear para todos, de forma igual, o material necessário para divulgar suas propostas.
Com o financiamento público todas as pessoas que se sentirem chamadas à vida pública terão a mesma oportunidade e a escolha será a partir das propostas e não da forma que é hoje em que os vencedores, em regra, são aqueles que mais utilizaram recursos econômicos, inclusive comprando.
Por fim, não ousaria ter, e não tenho, a pretensão de fazer aqui discussão técnica e aprofunda a respeito dos detalhes das propostas que provavelmente figurarão nos debates da esperada reforma política, mas sim chamar a atenção pra esses aspectos referentes ao financiamento das campanhas eleitorais, pois acredito que a diminuição máxima da influência direta daqueles que têm mais dinheiro será, se aprovado, um fator fundamental no processo de “passar a limpo” o Estado brasileiro.
A você que me deu a honra que ler este post, fique atento, pesquise, vamos aproveitar a oportunidade que provavelmente teremos de, finalmente, mudar nosso país pra melhor. Afinal, nós, nossos filhos e netos merecemos governos que verdadeiramente nos representem!
Anderson Machado