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quinta-feira, 18 de julho de 2013

“Cada povo tem o governo que merece” Será?


Imagem via Google/Imagens


“Cada povo tem o governo que merece” Será?


Quando o filósofo francês Joseph-Marie Maistre (1753-1821) escreveu sua mais célebre frase, consagrou na história um pensamento que, no fundo, queria dizer que o povo não sabe escolher seus governantes. É uma conclusão bastante tentadora a que nos proporciona o pensador – que era contrário à revolução francesa e defensor da monarquia, pois coloca no colo do “povo” a culpa pelas mazelas governamentais que ao longo da história passada e presente existem em nossa sociedade. Fácil concluir: Esse povo ignorante é que faz os “políticos” serem tão corruptos. Bem feito!

Mas espere um pouco... Tem um “detalhe” importante nessa história: Que é esse tal “povo” que merece, permanentemente, governos tão ruins?

Por mais dolorosa que seja essa conclusão, é preciso perceber que esse povo também sou eu, é você que lê estas linhas, nossos ascendentes (pai e mãe, p.e.) e descendentes (filhos!), vizinhos, amigos, colegas, os jogadores de nossos times (pelo menos os cidadãos brasileiros), aquele guarda que te aplicou uma multa de trânsito (e que você teve vontade de dar R$10 pra ele mudar de idéia), aquele bombeiro que sacrificou a saúde salvando vidas no incêndio, aquele magistrado que vende sentenças e aquele outro que arrisca a vida pra garantir a prevalência da Justiça, o médico que só quer trabalhar à beira mar e aquele outro que vai pros rincões honrar a profissão... Enfim: Nós somos esse “tal” povo! E será que merecemos governos que nos roubem, que nos enganem, que não se preocupem conosco, que não cumpram a missão para a qual foram designados?

Apesar de inegavelmente existirem pessoas que não fazem a sua parte das pequenas às grandes coisas na sociedade, ninguém merece ser roubado, enganado, maltratado. Não defendo o “olho-por-olho”, até porque a imensa maioria do povo é gente de bem, gente que no fundo quer o bem dos seus e, no mínimo, não quer o mal para os demais.

O povo brasileiro não tem o governo que merece!

E isto é assim, porque vivemos imersos em um sistema político feito para não funcionar, pensado para privilegiar uma minoria que ao longo da história sempre se manteve efetivamente no Poder, independentemente de governos. Em que pese, de tempos em tempos, termos movimentos que aparentam que, finalmente farão com que vivamos numa verdadeira democracia, há sempre manobras que permitem a perpetuação dos “velhos”, daqueles que jamais se afastam do Poder e permeiam todos os governos (qualquer semelhança com elementos do PMDB não é mera coincidência).

O tal do “sistema” é tão bem feito que impede até mesmo quem queira realmente trabalhar. A forma como se dão as eleições e a tal “governabilidade” transformam qualquer programa de governo decente, no máximo, num arremedo, baseado em conveniências e retribuições, muitas vezes inconfessáveis. Eleger-se no Brasil, pelo sistema atual, é privilégio de quem tem muito dinheiro ou de quem se alia a quem tem muito dinheiro. Resultado: Os governos jamais deixam de facilitar e trabalhar para que quem já tem muito dinheiro ganhe ainda mais!

Não existe solução mágica pra isto, afinal, são muitos os fatores que contribuem para a corrupção que vem da sociedade para a administração. Investimento em educação com cidadania e fortalecimentos de valores éticos e morais, sem dúvida produzirão a médio longo prazo mudanças estupendas, que serão a base de uma sociedade melhor.

Porém, é preciso atacar o sistema em sua fonte de alimentação, é fundamental reduzir a influência do poder econômico na escolha daqueles que ocuparão os cargos mais influentes do Estado Brasileiro.

O modelo atual de financiamento de campanhas é um absurdo, favorece aos milionários e àqueles que vendem seus futuros mandatos. É porta aberta à corrupção, pois quando uma empresa ou alguém financia sua campanha, após a eleição vai mandar a fatura, que em regra é a corrupção.

Precisamos de uma democracia onde as pessoas sejam eleitas porque têm o dom de bem representar seus iguais, porque têm o dom de formular e defender boas e exequíveis propostas. Se a maioria do povo brasileiro é assalariado, porque a maioria de nossos "representantes" é de empresários, oligarcas e seus comparsas? É possível mudar essa história e isto começa por nivelar as eleições.

Que vença quem tiver propostas e não quem compra mais votos!

Nesse sentido, está em discussão no Congresso Nacional e também no seio de nossa sociedade, a partir da iniciativa de movimentos populares e alguns partidos políticos, a proposta de financiamento público exclusivo das campanhas eleitorais. Como não poderia deixar de ser, os “velhos” e eternos donos do “Poder” já se mobilizaram contra a proposta e tentam desviar o foco da discussão, distorcendo-a.

É preciso dizer que não se trata de “gastar dinheiro público com políticos” e sim investir no processo eleitoral igualitário e democrático para que tenhamos eleitos que efetivamente representem o povo brasileiro. Não é usar nosso dinheiro para fazer campanhas ricas (contratar shows, inundar as cidades de fotos que nada dizem, etc.), é apenas custear para todos, de forma igual, o material necessário para divulgar suas propostas.

Com o financiamento público todas as pessoas que se sentirem chamadas à vida pública terão a mesma oportunidade e a escolha será a partir das propostas e não da forma que é hoje em que os vencedores, em regra, são aqueles que mais utilizaram recursos econômicos, inclusive comprando.

Por fim, não ousaria ter, e não tenho, a pretensão de fazer aqui discussão técnica e aprofunda a respeito dos detalhes das propostas que provavelmente figurarão nos debates da esperada reforma política, mas sim chamar a atenção pra esses aspectos referentes ao financiamento das campanhas eleitorais, pois acredito que a diminuição máxima da influência direta daqueles que têm mais dinheiro será, se aprovado, um fator fundamental no processo de “passar a limpo” o Estado brasileiro.

A você que me deu a honra que ler este post, fique atento, pesquise, vamos aproveitar a oportunidade que provavelmente teremos de, finalmente, mudar nosso país pra melhor. Afinal, nós, nossos filhos e netos merecemos governos que verdadeiramente nos representem!

Anderson Machado

8 comentários:

  1. Na verdade, merecer implica num julgamento de valor. Creio que seria mais realista "Cada povo tem o governo que o espelha". Pode não ser merecido, mas o espelha. Citaste, tanto exemplos de pessoas de "caráter duvidoso" quanto de pessoas que ao dedicarem-se pelo bem comum vão muito além de qualquer obrigação. Sei que soa pessimista, mas estes são a minoria. Diariamente, vejo muitas pessoas decidindo-se pelo que elas têm a ganhar, em detrimento dos demais. Decidindo-se pelo que é mais fácil/rápido em detrimento do que produz melhores resultados. Exemplos disto são os engarrafamentos de trânsito, o lixo jogado nas ruas ou nas casas de terceiros, a cola nas provas, os trabalhos de aula copiados da wikipédia, etc. Estamos tão acostumados com o errado que até achamos natural. Quantos de nós param para pensar no autor do livro "xerocado" ou da música/vídeo baixado da Internet? O cara trabalhou para produzir aquilo. Quem aqui concorda naturalmente em trabalhar esperando ser pago e na última hora levar o calote? Concordo que o preço de muita propriedade intelectual seja abusivo. Mas, então abstenham-se de fazer uso. Ghandi dizia ao povo que reclamava do preço do tecido que fabricasse seu próprio tecido e não comprasse os tecidos caros. Quando a vasta maioria acha natural pensar somente em si e azar dos outros, o governo vai ser, naturalmente, composto de pessoas com este pensamento. A única diferença entre eles e o povo, é que aqueles serão os egoístas de maior destaque...

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  2. Meu caro ilustre cidadão.
    A conversa está muito bonita, mas a verdade e bem maior.
    Para mim, só haverá uma mudança e melhoria se exterminar todos estes políticos que sagram a nossa nação.
    O problema mais grave da nossa nação é falta da bendita educação doméstica, sem ela ficará muito mais difícil mudar os maus hábitos de nossa sociedade.
    O cidadão educado pela família que preserva os bons costumes, os bons hábitos, caráter, dignidade, honestidade, lealdade, sinceridade, transparência, comprometimento, respeito e amor ao próximo.
    A família é a célula mãe de uma sociedade. Por tanto, todo o cuidado, zelo, atenção e investimento são de suma importância e responsabilidade de cada um.
    Então acredito que haverá uma esperança em mudança, se não, não acredito que mude.

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  3. Matar os sujeitos maus que impedem que nossa vida seja boa... Aí temos que decidir quem é bom e quem é mau. E quem é que vai decidir isto? Olha, isso já foi tentado na Alemanha pelos nazistas. Os resultados impressionaram o mundo ...

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  4. Essa frase: “cada povo tem o governo que merece” tem como reflexo o comodismo acentuado do povo, a sua inércia pela qual é o único responsável, que resulta não na falta de entendimento, mas da falta de resolução e de coragem. Um exemplo: é tão fácil seguir tutores; eles ensinaram tudo o que eu preciso saber, dessa forma não preciso eu mesmo esforçar-me, eu não sou obrigado a refletir, se é suficiente pagar, outros se encarregarão por mim da aborrecida tarefa. O homem foi criado assim, são entraves que se perpetuam, é difícil para o povo se libertar dessa escravidão imposta durante séculos.
    O sistema governamental atual é uma teia de ligações corruptas que não visa à ética, visa ao dinheiro público, não para beneficiar o povo, mas para beneficiar toda uma quadrilha de crimes. E para que essa onda de crimes não continue fazem-se necessárias mudanças. O povo precisa sair dessa espécie de segunda natureza, dominado, envolvido por articulações mentirosas que o tornam prisioneiro de inverdades e incapaz de lutar por seus direitos, pelo governo dos sonhos. Um exemplo: um dia o governo disse ao povo não raciocinai, mas obedeça e o povo seguiu esse sistema falido. Se você é um funcionário e o chefe manda-lhe fazer algo errado, você simplesmente obedece, se você é filiado a um partido, você faz vista grossa, engana a vista, diante das coisas erradas. Que opinião própria você tem? Nenhuma. Você é submissa(o) ao meio em que vive.
    O fato é que a mudança tem que começar por você. Ao perguntar-se, “deve-se somente obedecer”. Não me refiro deixar de desrespeitar as leis, mas exigir que elas sejam cumpridas. Veja, existem muitas imposições inoportunas e injustas que acatamos sem discutir. O governo dos nossos sonhos é possível, desde que haja a nossa participação ativa, que o cidadão seja um cidadão atuante.
    E prefiro essa frase: “O meu ideal político é a democracia, para que todo o homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado.” (Albert Einstein).

    Solar

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  5. Boa tarde, tenho algumas críticas ao texto e espero que contribuam para o avanço do debate.

    Já no título do texto vc utiliza a categoria "povo" (o conjunto de indivíduos que formam a totalidade de uma sociedade). Ao utilizar essa categoria, parte-se de 2 pressupostos:

    - não existem, ou é irrelevante a existência de classes sociais compondo esse "povo" e, consequentemente o fato de que algumas dessas classes possuem interesses opostos e inconciliáveis;

    - o Estado como um ente externo e acima do "povo", ou melhor, das classes, cuja função precípua seria dirimir os conflitos e promover o bem comum.

    A coerência com esses pressupostos é mantida até o fim do texto, mas será que eles estão corretos? Será que o buraco não é mais embaixo?

    Mais adiante, vc demonstra a capacidade dos "donos do poder" (eles tem nome, endereço e seus clubinhos: FIESP, FEBRABAN, CNA, etc) influenciar no Estado, via corrupção. Não nego esse poder, tampouco a necessidade urgente de combatê-lo, conte comigo para esta luta, mas será essa a verdadeira fonte do poder e maior causa das mazelas da nossa sociedade?

    O verdadeiro poder não estará na capacidade de decidir diretamente sobre toda a produção de riqueza do país? E quando falamos de produção de riqueza, estamos falando da produção da vida, afinal, aquilo que se torna "riqueza", ou melhor, capital, para eles, para nós é comida, roupa, transporte, etc e tantos outros valores de uso. Então, quando um fazendeiro, ou agro-empresário, decide plantar 10.000 hectares de soja, porque a taxa de lucro obtida na safra vai ser de x%, ao invés de plantar arroz, feijão, milho, trigo, etc, não está ele exercendo um poder muito superior? Ou quando as montadoras ameaçam demitir milhares de trabalhadores, arrancando do Estado uma redução do IPI. Notem que não é preciso o expediente da corrupção (embora seja amplamente utilizado, pois oferece um atalho e uma vantagem competitiva) para que os donos do poder forcem o Estado a agir em seu benefício, ainda que esse tenha tido a intenção (vamos supor que sim) de agir no interesse dos trabalhadores que seriam demitidos.

    Diversas outras questões me vem à mente, mas já abusei da paciência de quem leu até aqui.

    Concluindo, sou totalmente favorável ao financiamento público de campanha, pois considero um passo na direção certa, mas muito outros precisam ser dados, e ainda assim, existem obstáculos que necessitarão de verdadeiros "saltos" para serem superados.

    Abraços

    Fabio Caçador

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  6. Anderson, parabéns pelo texto - e por voltar a tratar desse tipo de tema (vou ajudar a divulgar). Amenidades e frases de efeito podem até propiciar um retorno que afaga o ego, mas terminam por nos manter em um território de inocuidades aquém da nossa real capacidade de influir.
    Grande abraço,
    Aroldo

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  7. Resumo da ópera: A maioria das pessoas correndo atrás de interesses estritamente individuais, esquecendo do coletivo. Ex: Quero andar de carro porque dá status além de conforto, o transporte público que continue sem qualidade pros que precisam. Exemplo do mundo automotivo que eu tanto gosto:Corolla e Jetta são carros populares em países desenvolvidos. Aqui viram carro de PATRÃO.
    Compramos superfaturado porque queremos status.
    No Brasil gostamos de correr cada um atrás do seu ganho e não do interesse coletivo, mesmo sabendo que pensar no coletivo é melhor pra todos. Talves seja melhor ser pobre em um país rico e desensolvido do que classe média em país sub. Queremos melhorar a nossa vida pra nos sobressairmos no meio. Enquanto essa for a mentalidade das pessoas, o mundo não vai mudar. Só espero que piore ao ponto em que se torne inevitável a mudança de nossas mentalidades egoístas.
    Eu acredito sim que cada povo tem o governo que merece. Se fizermos por merecer talvez mudemos o rumo das coisas, mas é preciso cobrar, não aceitar, se indignar, se importar(não apenas com o que lhe diz respeito). Uma parte do povo já está percebendo isso, mas ainda tem muita gente sonhando. Brasileiro é malandro, quer tirar vantagem em tudo. Isso é da nossa cultura. Não adianta falar que a maioria é do bem, será mesmo? Sempre vejo vários pessoas tentando se dar bem quando podem e outras muitas se omitindo quando vêem pequenos desvios de conduta. Enquanto o povo aceitar muitas coisas que acontem no Brasil/Mundo como sendo normais sem se questionarem, nada vai mudar. Mudar quem está no poder por quem? Por outros que irão fazer as mesmas coisas? A não ser que chamemos aliens para nos governarem, porque se forem alguns de nós, vai continuar tudo na mesma, mesma roubalheira. Precisamos acordar, pensar e mudar.

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  8. Isso é um sonho
    mais ainda não realidade

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